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  • Fidelizando as Cores de Impressão

    Fidelizando as Cores de Impressão

    Quem nunca imprimiu uma cor e apareceu outra completamente diferente? Cada dispositivo possui um modo diferente de interpretar as cores. Este artigo foi feito para explicar como funcionam as cores e como garantir uma melhor fidelidade entre tela e impressora.

    Existem várias formas no mundo de se gerar cores. É possível misturar tinta, luz ou simplesmente causar uma ilusão de ótica por aproximação. Quimicamente, aprendemos, ainda no pré-escolar, o conceito de cores primárias, onde misturamos o azul, vermelho e amarelo para ter as cores secundárias e terciárias. Todavia, o conceito de cores primárias mudam de acordo com o meio em que a cor vai ser exibida. Para compreender quais são esses modos de cor, precisamos primeiro entender como funcionam os principais dispositivos usados por designers gráficos, para geração de cores, os monitores e as impressoras.

    Cores Primárias nas tintas

    Monitores

    A grande maioria dos monitores e displays LCDs usados hoje em dia ainda trabalham da mesma forma, mas com tecnologias diferentes que foram sendo implementadas conforme a evolução tecnológica e barateamento dos custo de produção. Basicamente, tratam-se de filamentos de metal acomodados em uma grade matricial. Cada campo dessa matriz possui 3 partículas de cristais líquido, que ao serem eletricamente estimuladas adquirem a característica de absorção de uma determinada área do espectro de luz e se solidificam, deixando vazar o restante. Cada uma das 3 partículas é responsável por deixar passar um pedaço do espectro, baseado no que chamamos de cores primárias da luz, que são vermelho, verde e azul (RGB). Aumentando ou diminuindo a solidificação, mais luz ou menos luz é absorvida. Porém, o cristal líquido não emite luz própria e, por isso, precisa ser retro-iluminado por uma luz branca, que vai ser filtrada por pelo LCD.

    Lembrando que essa é um explicação bem simplificada e o que diferencia na qualidade das cores, hoje em dia, é o tipo de retroiluminação. Aí se é OLED, AMOLED, IPS, é uma outra história.

    LCD visto de Perto

    Impressoras

    As impressoras, diferente dos monitores, jogam tinta (ou produzem tinta a partir de pigmentos) em pontos muito, muito próximos, mas não chegam a misturar os pigmentos (a não ser que ele sobreponha uma tinta na outra, mas isso não é bem misturar). Esses pontos, chamados de retículas, são fixados no papel (ou no material escolhido), que de tão próximos faz parecer que eles formam outra cor. Isso funciona porque a luz do ambiente, quando bate nesse pigmento, absorve um intervalo do espectro de luz e reflete outro. Esse intervalo chega aos olhos e são interpretados. As cores básicas para impressão são ciano, magenta e amarelo, que, por justamente ser reflexão e não emissão, são as cores secundárias do RGB (e vice-versa). Todavia, como os tons não emitem feixes, mas sim os refletem, eles acabam sendo mais fracos que as cores dos monitores, dependendo da quantidade e tom de luz do ambiente para prover uma boa leitura. Quando colocamos pontos cianos, magentas e amarelos próximos, temos uma sensação amarronzada, meio acinzentado escuro e, por isso, é necessário um complemento de pigmento preto, tornando o conhecido CMYK (onde K, outrora chamado de Bk, é uma letra usada para se diferenciar do Blue, representa o blacK).

    Meio Tom em CMYK

    Concluímos dessa forma que os monitores trabalham com modelos de cores aditivos (geralmente o RGB), por adicionar luz, e o impresso com modelos de cores subtrativos (geralmente o CMYK), por retirar luz.

    Deixar RGB para monitor e CMYK para impressão é suficiente para fidelidade das cores?

    A resposta é não. Isso porque você deve levar em consideração diversos outros fatores. Cada aparelho é de uma marca diferente e possui uma tecnologia diferente e ainda é calibrado de uma forma diferente. Essa forma diferente de calibração acaba causando diferenças que muitas vezes comprometem o resultado do trabalho.

    O designer deve, em primeiro lugar, calibrar o sue monitor. Essa calibração é feita de forma pessoal, e depende do ambiente em que você trabalha e da capacidade de seus olhos de interpretar as cores. Para fazer a calibração, geralmente usa-se um aplicativo próprio do sistema operacional. Essa calibração gera um arquivo icc, ou icm, que é conhecido como Perfil de Cores.

    Calibração de Cores no Mac e Windows

    Gamut de Cores

    Cada aparelho possui um perfil de cores padrão. Se você abrir agora o gerenciador de cores do sistema operacional, poderá ver alguns perfis de cores configurados. Isso é necessário porque cada equipamento tem uma quantidade diferente de cores que pode gerar / interpretar, dependendo de sua tecnologia. Essa quantidade de cores é representada em um mapa de cores o qual chamamos de GAMUT. Que não somente são diferentes entre si por quantidade, mas também por capacidade de exibição de determinadas cores. Por exemplo, o gamut CMYK, por padrão, é menor do que o RGB, mas possui uma quantidade muito maior de variações de amarelo do que o modelo aditivo. O que usamos para atingir esses tons que estão fora do gamut do CMYK, e até do RGB, na impressão, é a adição de Cores Especiais, que são tintas ou pigmentos fabricados com uma cor específica e, geralmente, somados ao CMYK.

    Gamut - Comparações

    Porém, essa diferença de cores gera uma problemática muito grave que é a diferença absurda de cores entre dispositivos diferentes, mesmo que seja do mesmo modelo. Para web, por exemplo, quando queremos que todos os monitores exibam as cores mais próximas possíveis do planejado, utilizamos as Cores Seguras, que, por conta dessa necessidade, acaba por diminuindo ainda mais o gamut de cores utilizáveis.

    Web Color Safe

    Fidelidade de Cores

    Para garantirmos uma melhor fidelidade de cores na impressão, precisamos configurar o nosso dispositivo de produção para que tenha o mesmo perfil de cores que o dispositivo de impressão. Ou seja, precisamos configurar o gerenciamento de cores de nosso software de edição gráfica com o perfil de cores da impressora. Obviamente que precisamos saber, enquanto estamos produzindo o material finalizado, em qual gráfica será impresso. Para conseguir esse arquivo, o melhor é você ligar para a gráfica

    – Gráfica Enrolada, bom dia! Em que posso ajudar?

    – Olá, eu gostaria de saber qual o procedimento para impressão e se vocês podem me mandar o perfil de cores.

    – Ah, um momento que vou perguntar para o pessoal de produção.

    (música de Beethoven)

    – Senhor, é só enviar em CMYK mesmo.

    – Não, não, amiga, estou querendo saber qual o perfil icc, queria que vocês me mandassem para eu poder trabalhar melhor nas cores.

    – Um minuto, Senhor.

    (música de Beethoven)

    – É isso, mesmo, CMYK.

    – Tá OK, obrigado.

    Se isso acontecer com você, troque de gráfica. Se por acaso for uma gráfica parceira, vá até lá e explique o que é um perfil de cores. Muitas vezes, esses perfis de cores são geradas durante a calibração da impressora e podem mudar de calibração para calibração e até com a marca da tinta/pigmento que a gráfica utilizar.

    Todavia, pode acontecer de gráficas seguirem padrões. Nas configurações dos aplicativos Adobe, vocês poderão ver padrões de perfis de cores CMYK, como FOGRA 39, US WebCoated, dentre outros. Se a gráfica mandar o perfil de cores, vocês devem carregar o perfil de cores CMYK em seus softwares gráficos para finalizar as imagens, se elas indicarem um padrão, basta selecionar qual padrão ela pediu. Atenção que vocês devem também configurar também o Cinza, para garantir a fidelidade de preto, de acordo com as indicações da gráfica. Lembre-se de também atribuir o perfil de cor RGB de seu monitor (ou o que você calibrou), caso esteja trabalhando com um impresso.

    Photoshop - Configurações de Cor

    Perfis de Cor Incorporados

    Arquivos de imagem possuem perfis de cores incorporados, por padrão. Então, quando forem utilizar um software gráfico de impressão, vocês devem incorporar o perfil que está configurado no aplicativo ao arquivo. Quando você incorporar (ou converter) para o perfil de impressão, na mesma hora o software irá reconfigurar a calibração de cores e se adaptará ao do perfil, mudando as cores da imagem, tornando-a mais próxima possível ao resultado impresso.

    A imagem deve ser finalizada já com o perfil incorporado, fazendo as adaptações necessárias nas cores e luminosidade.

    Comparação de Perfil de Cores CMYK

    Incorporações de Perfis na Exportação do InDesign

    Uma vez com seu arquivo finalizado e todos os perfis de cores configurados nas imagens que serão utilizadas pelo InDesign, a exportação para PDF (que é o mais comum) também deve se atentar a incorporação do perfil de cores. Ao exportar, na guia Saída, deve-se marcar para converter em destino. Essa opção não é 100% necessária, se você configurou corretamente antes o InDesign enquanto trabalhava, e os arquivos de imagem já tem incorporados os perfis, mas é uma segurança a mais que tudo vá correr bem. O destino escolhido, obviamente, deve ser o perfil CMYK que foi enviado / recomendado pela gráfica. Por padrão, o InDesign já deixa marcado para incluir o perfil, o que, obviamente, é o mais recomendado de se fazer.

    Exportação em PDF - Cores - InDesign

    Concluindo

    Se você busca fidelidade nas cores de impressão, fique atento a manter sempre o seu monitor calibrado e bem configurado. Se usa Windows, lembre-se que o monitor deve ser instalado ou reconhecido, nada de Monitor Plug And Play. Faça regularmente calibragem no seu ambiente de trabalho e sempre incorpore os perfis de cor enviados / recomendados pela gráfica em seu material impresso.

    Lembre-se que a cor é essencial para um projeto gráfico, e para atingir o resultado esperado, você precisa planejar e reconhecer muito bem a cor.

  • Qual a cor do vestido? Ou um ensaio sobre a percepção das cores

    Qual a cor do vestido? Ou um ensaio sobre a percepção das cores

    Há pouco tempo (da publicação deste texto), uma imagem começou a gerar certa polêmica nas mídias sociais, um vestido azul… ou branco?

    Vestido azul ou branco

    A dúvida que paira é porque algumas pessoas enxergam branco e outras azul e qual, afinal, é a cor do vestido?

    Muitas teorias pairam acerca disso. Seriam estas: o quanto o ser-humano está feliz, algo biológico e como os cones se comportam em cada indivíduo, etc. Mas, na verdade, a resposta mais provável está na psicodinâmica das cores.

    O que é cor?

    A cor é a forma como um indivíduo interpreta uma determinada frequência de um feixe luminoso. A cor não é um fenômeno físico, mas um fenômeno individual. Cada ser-humano interpreta as cores de forma diferente.

    A interpretação das cores se dá por três formas: biológica, cultural e sensorial. Ou seja, cada cor pode ser interpretado de acordo com fatores genéticos, com o ambiente social em que vivemos e/ou com a história de vida do ser humano.

    Biologia

    Existem dois grupos de células, cones e bastonetes que, unidas às células ganglionares, passam passam a informação luminosa para o cérebro. A teoria mais aceita é que os bastonetes interpretam a luminosidade, enquanto o três diferentes tipos de cones cuidam de interpretar as frequências dos feixes, vermelho, verde e azul. Todavia, isso não explicaria certos tipos de daltonismo. Por isso, há outra teoria que diz que há somente dois tipos de cones e não três, um que interpreta amarelo-azul e outro verde-vermelho.

    Cultura

    O meio em que cada ser-humano vive muda a forma como este enxerga e nomeia as cores. Se para a maioria a água é azul, uma outra cultura pode ter dado outra cor para a associação, indo de acordo com o que a sociedade enxerga. A água, então, poderia ser considerada verde ou vermelha, de acordo com o ambiente. Em alguns casos, algumas comunidades podem responder que depende da hora do dia. Independente do significado que cada cultura dá a uma cor, a interpretação das nuâncias também varia. Saber se algo é marrom ou laranja, verde piscina ou azul piscina, roxo ou violeta, vinho ou carmim, muda de acordo com o que o meio aceita e isso cria um “carimbo” na mente do indivíduo.

    Fenômeno Sensorial

    A interpretação das cores é relativa em cada indivíduo de acordo com o seu cotidiano. Simplesmente não somos capazes de reconhecer coisas que não conhecemos. A instrução visual é desenvolvida na infância e, quando adultos, a maioria do aprendizado é feito através de assimilações. Como, por exemplo, a associação de comparar um objeto que nunca viu com um outro objeto. O mesmo acontece com as cores. Criamos associações frequentes baseadas em nossa história de vida.

    Na imagem abaixo podemos ver duas imagens do Homem-Aranha, uma do segundo filme do Sam Raimi e a outra, mais recente, do filme de Marc Webb. Se fosse perguntado qual a cor do uniforme do Homem-Aranha, a resposta seria claramente azul e vermelho.

    homem-aranha-2-sam-raimi-cores

    espetacular-homem-aranha-2-cores

    A verdade é que as cores usadas na cena, causadas pelo filtro, e até mesmo as cores ao redor não são capazes de mudar, pelo menos não conscientemente, a ideia que sua herança de vida, seu conhecimento adquirido por anos, dá de que a roupa do Homem-Aranha é azul e vermelha.

    O filme Jogos Mortais – O Final é um outro bom exemplo, onde o sangue é rosa, pois esta cor trabalha melhor com a tecnologia 3D, todavia a sensação do espectador é que o sangue é vermelho, pois este tem um conhecimento prévio de que se trata de sangue e cria a associação com a cor.

    jogos-mortais-o-final

    Afinal de que cor é?

    Azul. Isso pode ser comprovado através de outros blogs de notícias e Tumblr da moça que publicou a imagem original.

    Então porque alguns enxergam branco?

    Pela internet há tentativas de explicar usando a diferença biológica de cada indivíduo (quantidade de cones e bastonetes) e até mesmo a diferença da calibração dos displays (monitores e celulares). O ponto falho dessas propostas de explicação é que algumas pessoas mudam sua opinião após algumas observações ou começam a notar outra cor, quando a cor predominante é visto ao lado. Além disso, as diferenças não se resumem a computadores diferentes. Pessoas diferentes, no mesmo dispositivo, alegam identificar cores diferentes.

    O motivo pelo qual algumas pessoas enxergam o vestido branco é por uma causa sensorial, pela identificação do objeto em relação a outros tons e experiências anteriores. Essas experiências fazem com o cérebro conclua que a cor é branca, mesmo estando em um ambiente em que outros fatores alterem a cor do objeto. Uma experiência anterior muito comum que deve ter sido gravada no cérebro para dar essa sensação é o por do sol.

    Cachorro olhando o por-do-sol

    A respeito da imagem acima, temos plena convicção de que o cachorro é branco. Sabemos disso, e se nos perguntarem a cor do cachorro, ninguém vai dizer que o cachorro é azul. Temos consciência e inconsciência de que ambientes no por do sol, que tem esse contraste, causam tons azulados em coisas que são brancas. O cérebro, já treinado com esses tons, cria a resposta instantânea de que o objeto é branco.

    Além disso, as cores predominantes na imagem são justamente cores opostas, que são complementares entre si, na escala cromática. A cor complementar tende a anular a outra quando sobreposta por meio de cores aditivas (emissão de luz), a confusão dificilmente aconteceria em um material impresso, por exemplo.

    Por que nem todos enxergam branco?

    Nem todos possuem uma história de vida igual. Algumas pessoas simplesmente não tiveram tantas experiências com esses tons de cores ou possuem outras experiências sensoriais que mudam a forma como é observada. Designers e artistas plásticos, por exemplo, acostumados a identificar pequenas diferenças em tonalidades de cores, tendem a ver o azul, pois identifica mais rapidamente a qual escala cromática pertence aquele tom.

    Então pessoas que tem experiência com cores conseguem identificar pequenas nuâncias de cinza, como cinzas azulados, cinzas amarelados, etc. Pois isso é usado, inclusive, para ajustar materiais impressos de acordo com a forma com que a gráfica coloca a tinta.

    Com o tempo a sensação da cor pode mudar, pois os olhos se acostumarão com os tons e se adaptará para compreender a imagem.

    E quanto ao preto e o dourado?

    Os tons pretos e dourados é mais por uma questão cultural do que sensorial. Claro que existe a questão do tom alaranjado da imagem ser reconhecido pelos olhos e a pessoa tender a aceitar que é preto. Mas a realidade é que o monitor não exibe dourado, mas marrom, logo, afirmar dourado é uma forma de falar por conta dele possuir tons que são comuns em objetos dourados. Então chamar aquele tom de marrom, dourado, ou preto é mais pela percepção cultural que se tem daquele tom, apesar de possuir um pouco da questão sensorial.

    Concluindo

    A capacidade do ser-humano de identificar cores em diferentes ambientes é o causador da confusão se o vestido é branco ou azul. O que fará com que uma pessoa identifique ou não o tom na imagem depende de suas experiências anteriores e meio social. Não tem nada de sobrenatural e anormal, mas é um efeito bem interessante que pode, deve e é aplicado em muitas áreas do design e artes.